Muitos são os serviços que já fazem parte da vida do advogado criminalista, sendo um deles o atendimento ao cliente no presídio.
Se você ainda não atendeu um cliente no presídio, provavelmente irá em breve, e é provável que seja esse o motivo de estar aqui.
Também pode ser o caso de não ser a sua primeira vez, mas pretende aprimorar os seus conhecimentos sobre o assunto.
Independentemente de qual seja o seu caso, esse artigo vai te ajudar. Nele, eu dou 10 sugestões do que fazer antes de ir para um atendimento ao cliente no presídio. Sendo elas:
Sumário
ToggleAntes de agendar o atendimento ao cliente no presídio saiba:
Os dias e horários de visita dos familiares e amigos:
Os dias e horários de visita dos familiares podem ser obtidos com os próprios parentes. No Espírito Santo, a Sejus tem um aplicativo que informa os dias e horários de visita das pessoas cadastradas.
Assim, você não corre o risco de visitar o cliente no mesmo dia de um familiar. Pois, essa situação atrasaria ou impediria a visita dele.
Alguns presídios têm todos os seus horários de visita de familiares e amigos preenchidos. Sobretudo, os que estão superlotados. Isso impossibilita que haja mudança de horários. Sendo assim, se a visita não é feita naquele exato horário, ela não vai ocorrer.
Portanto, avisa à família o dia e horário que você vai atender o cliente no presídio. Além disso, pergunte se alguém tem recados a serem passados para o seu cliente e anote todos em um papel, para não esquecer.
No entanto, quanto a repassar recados para clientes presos, tome muito cuidado! Pois, pode acontecer de um “simples” e “inocente” recado, ser uma mensagem oculta mandando matar alguém.
É por isso que alguns advogados preferem não levar recados de nenhuma espécie aos seus clientes.
E isso também serve para os recados dos clientes para os familiares. Por exemplo: “Fala para o meu irmão que eu estou mandando um beijo para fulano”. Quando, na verdade, esse “beijo” é uma sentença de morte.
Portanto, tenha isso sempre em mente. Inclusive, você como advogado pode até ser envolvido nessa situação e ser acusado de trabalhar como “mensageiro” do crime.
Então, tome cuidado com os recados. Avalie sempre o teor, tipo de recados e principalmente de quem está partindo esse recado.
O horário do banho de sol, trabalho e estudo:
Sobre o horário de banho de sol, trabalho e estudo, informe-se com o presídio ou pelo site (se houver). Dessa forma, você não atrapalha o cliente e também não se atrapalha.
Caso o seu cliente esteja em um desses momentos na hora da visita, isso pode custar a perda do banho de sol ou horas de estudo dele. Pois, ele não terá cumprido a carga horário integral.
Além disso, você pode ter que esperar a finalização de um dos procedimentos citados. Ao passo que, há presídios que já possuem um tempo de espera grande, podendo ser agravado.
Pode acontecer também de você chegar ao presídio no horário de almoço do seu cliente. Nesse caso, podem acontecer três coisas:
- Você tem que esperar o cliente;
- O seu cliente irá comer comida fria quando voltar;
- O seu cliente perder a vez de comer (não se assuste se isso acontecer).
Saiba se o presídio tem um procedimento próprio, como horários ou procedimentos de segurança:
O comum é ser fácil o acesso do advogado ao cliente preso, bastando você se identificar na entrada e aguardar. Contudo, cada presídio tem suas regras internas, os seus procedimentos administrativos e de segurança.
Sendo assim, entre em contato com o presídio antes para obter algumas informações. Por exemplo, se há necessidade de agendamento ou um horário específico para o atendimento de advogados. Sobretudo, nos estabelecimentos de segurança máxima, que possuem um sistema de segurança mais rígido.
O advogado tem o direito de ter livre acesso ao presídio e não pode ser impedido disso. No entanto, é bom saber essas questões para evitar problemas lá na hora.
Caso ocorra algum problema, você pode acionar as prerrogativas, entrar em contato com a Corregedoria ou até mesmo fazer um Mandado de Segurança. No entanto, tente ao máximo evitar transtornos, pois, depois desse episódio você poderá ser visto com maus olhos pelos servidores daquele presídio.
Outro exemplo de procedimento, que você deve saber se está sendo realizado, seria quando o interno é transferido do regime fechado para o semiaberto, no qual ele passa por um período probatório.
Nesse sentido, após a sua chegada na nova unidade prisional ele recebe uma “palestra” sobre o funcionamento do presídio. Nessa palestra são passadas às regras do local e do trabalho.
Sendo assim, é importante a participação do seu cliente nessa reunião. Inclusive, os próprios funcionários do estabelecimento alertam sobre isso.
Caso o seu cliente esteja nessa palestra, o ideal é que você não o tire para o atendimento, salvo em casos excepcionais.
Saiba a cela e a galeria do seu cliente (não é raro mudanças constantes):
Saber a cela e a galeria ajuda os agentes a localizarem o cliente mais rápido. Pode ajudar também na hora de passar o nome dele para atendimentos médicos ou outras solicitações junto ao presídio.
Prepare o Kit Presídio
Feito os itens anteriores, prepare o seu “Kit presídio”, que é composto por:
Procuração em branco:
A dinâmica é a seguinte: Depois de conversar com o seu cliente ele pode te passar o nome de outro interno que está em busca de um advogado.
Nesse caso, quando você for conversar com o interno indicado ele irá te passar o número de um familiar para que você entre em contato, principalmente do familiar que irá pagar pelo serviço.
Ainda que você dependa de conversar com esse familiar, para saber se de fato será contratado, já é interessante você pegar uma procuração com ele. Pois, algumas guias de execução ou processos estão em segredo de justiça.
Além disso, caso você seja contratado, você não precisa voltar ao presídio só para pegar uma procuração. Visto que, os presídios costumam ser mais afastados da cidade. E se você não for contratado, basta jogar a procuração fora.
Ficha de primeiro atendimento ao cliente no presídio:
Essa ficha contém perguntas sobre as principais necessidades do cliente. Em síntese, é para que você possa mapear a situação do seu cliente dentro do presídio e se os direitos dele estão sendo respeitados. Pois, mostra a ele que você se preocupa e te diferencia daqueles que só tratam da questão processual.
Lembre-se, independentemente da situação jurídica do cliente durante o atendimento pergunte como está a situação pessoal dele no presídio. Pois, a afronta aos direitos e garantias fundamentais pioram muito a situação dele lá dentro. Afinal, a pessoa deve cumprir a sua pena ou uma decisão de prisão preventiva, não incluindo a perda de seus direitos fundamentais.
Os direitos mais violados nos presídios são os de saúde, qualidade da alimentação, condições da água nas celas e questões de segurança. Sendo assim, são estas as principais perguntas que serão colocadas na ficha:
- Sobre a saúde, se está com algum problema e se está precisando e conseguindo ter atendimento médico;
- Como está a comida no presídio, se está azeda, crua ou estragada;
- Como estão as condições de higiene, se a água da cela está limpa;
- Sobre a possibilidade de estar sofrendo ameaça ou coação;
- Se corre risco na cela;
- Se tem dificuldades para falar com o jurídico do presídio ou entrar em contato com o advogado, se necessário;
- Como está o contato com a família?
- Assistência religiosa.
No entanto, têm clientes que não comentam sobre essas questões, mesmo estando com um dos problemas apontados. Muitas vezes por vergonha, medo de sofrer alguma represália ou para não demonstrar fraqueza.
Lembre-se, o presídio é um lugar hostil e a última coisa que os internos querem demonstrar lá é fragilidade. Por isso, mostre ao seu cliente que não há problema em falar sobre essas situações.
Termo de registro de visita:
É um documento simples, de uma página, dizendo que você esteve no presídio naquele dia e atendeu determinado interno, com a assinatura do seu cliente.
Esse termo o resguarda e passa segurança à família. É comum que alguns clientes tenham familiares em outros estados.
Sendo assim, esse termo mostra aos familiares que você realizou o serviço e que a distância não é motivo de preocupação.
Quando se trata de clientes, não fale apenas, mostre! Em um mundo em que há tanta gente desonesta, as pessoas desconfiam de tudo e todos. Portanto, cabe a você passar credibilidade para seus clientes, comprovando tudo que é feito e dito.
Cópia da procuração assinada se já tiver:
O comum é o advogado não precisar da procuração para fazer o atendimento ao cliente no presídio. Mas, caso precise de informações, ou outro pedido junto com a própria unidade, ela pode ajudar, pois, mostra que você está atuando pelos interesses daquele interno.
Papel e caneta para anotações durante a conversa:
É fundamental anotar as informações relevantes da conversa. As principais são referentes ao processo, situação do cliente no presídio e recados para a família. Uma sugestão é você escanear essas anotações e arquivar na pasta do cliente no driver.
Documentos que mostram ao cliente o serviço prestado (se for o caso):
Nem só de conhecimento técnico deve ser feito o advogado. Transparência e informação são fundamentais no serviço. No entanto, não fale apenas, mostre. Seja os andamentos processuais, guia de execução, ou o que foi feito por você.
Oriente o cliente, deixe-o situado sobre todos os acontecimentos. Isso mostra que ele está sendo amparado e informado no presídio.
Conclusão
Aplicando o que foi dito nesse artigo, os atendimentos e todo o seu serviço serão diferenciados e vistos com bons olhos, tanto pelo seu cliente quanto pelos familiares.
Espero que eu tenha contribuído para que a sua prática advocatícia eleve de nível, tornando o atendimento aos seus clientes ainda melhor!