A inquirição de testemunhas nada mais é que fazer perguntas para as testemunhas durante a audiência, para saber o que elas sabem ou viram sobre os fatos discutidos no processo.
A prova testemunhal é um dos principais meios de prova no Processo Penal. Sendo, em muitos casos, o que vai determinar o resultado final de um processo.
Portanto, é muito importante que o advogado atue de forma estratégica nesse momento. Sabendo como lidar com as testemunhas e sobretudo o que e como fazer essas perguntas.
Faça perguntas estratégicas
Inquirir uma testemunha não é fazer perguntas aleatórias. Tudo deve ser pensado, pois, lembre-se, o que a testemunha diz é um meio de prova.
Portanto, faça perguntas estratégicas, com um propósito, e só pergunte aquilo que irá te levar ao seu objetivo, ou seja, fundamentar a sua tese defensiva. Pense: “O que eu quero com essa resposta”? “O que estou tentando provar”?
A inquirição de testemunhas é um momento crucial, visto que de lá sairão boa parte dos argumentos usados pela acusação, defesa e juiz.
Sendo assim, não faça perguntas aleatórias, que não ajudam em nada. É bem comum vermos juízes chamando atenção de advogados que fazem perguntas repetidas, desnecessárias, sem nenhuma relevância para o caso.
Muitas vezes isso é feito por falta de domínio técnico ou para tentar mostrar serviço, mas também por despreparo e por ir à audiência sem saber o que fazer.
Inclusive, eu tenho um artigo que fala como se preparar para uma audiência criminal e em um dos tópicos eu ensino a como elaborar as suas perguntas.
Exemplo prático
Uma situação que já aconteceu comigo foi em um processo em que haviam dois réus. Eu estava por um e outra advogada pelo outro. Na hora do interrogatório do meu cliente, a outra advogada começou a fazer perguntas para incriminar o meu cliente.
Ela começou a atuar como verdadeira assistente de acusação. Aí você deve pensar, mas ela queria prejudicar o seu cliente para ajudar o dela, jogando a culpa de um para outro.
Se fosse isso até seria aceitável, mas a questão é que não era isso. Tudo que foi perguntado por ela não ajudou em nada o cliente dela, mas prejudicou o meu.
Isso só mostra o total despreparo para fazer perguntas em uma audiência, pois, as perguntas não eram feitas com um objetivo concreto, não tinham um fim específico.
Faça perguntas diretas
Na hora de fazer as perguntas, seja direto, vá direito ao ponto. Se o seu objetivo é saber o que a testemunha viu pergunte isso a ela: “O que você viu?”.
Não fique fazendo rodeios e perguntas retóricas, induzindo a testemunha a responder algo. Por exemplo: “Então você não viu isso acontecendo, né?”
No Processo Penal não é permitido o uso de perguntas que induzam a resposta, sendo um dos motivos pelo qual você deve evitá-las, mas não é o principal motivo.
A questão é que, perguntas retóricas na maioria das vezes são respondidas de forma arrastada e tímida. Ao contrário de uma pergunta direta, que na maioria das vezes são ditas com clareza.
Faça perguntas sem uma ordem cronológica
Uma outra estratégia é você fazer perguntas sem uma ordem cronológica. Exatamente, primeiro pergunte algo que aconteceu no final do ocorrido, depois no início e depois no meio.
Por exemplo: “O que você fez depois que tudo terminou?”, “O que você fez no meio da confusão? “Como estava o acusado no momento em que você chegou?”.
Também refaça as mesmas perguntas, mas de outra forma, indo e voltando. Contudo, tome cuidado para não ser repetitivo e ter a pergunta indeferida pelo juiz. Apenas tente esclarecer ou reforçar algo já dito.
E qual o propósito disso? É comum que a testemunha vá com um roteiro pronto na cabeça, talvez querendo esconder ou alterar alguma informação. Se você seguir a ordem dos acontecimentos a testemunha só terá o trabalho de narrar o seu roteiro mental.
Agora, se você fizer as perguntas de forma desordenada, fica muito mais difícil da testemunha tentar manipular as respostas, sendo induzida a dizer o que de fato viu. Pois, acabará fugindo do roteiro e dizendo o que aconteceu.
Deixe perguntas específicas para o final
Além disso, deixe as perguntas que possam irritar o receptor por último. Pois, caso faça perguntas constrangedoras no início, as pessoas podem ficar na defensiva ou se tornarem agressivas. Podendo colocar a perder todas as outras perguntas e dificultando a colheita de provas.
Por exemplo, um profissional que tem a sua capacidade técnica sobre determinado assunto questionado. Essas perguntas podem ofendê-lo, tornando-o menos propenso a colaborar.
Use e abuse das técnicas de “rapport”
Espelhamento
Durante a inquirição de testemunhas, tente ganhar a confiança da testemunha. Uma forma de fazer isso é usando técnicas de rapport, por exemplo, a técnica de espelhamento. É só pesquisar no Google “técnica do espelhamento” que você consegue encontrar fácil sobre ela.
No entanto, de forma resumida essa técnica consiste em espelhar ou reproduzir de forma natural o comportamento da pessoa com quem estamos nos comunicando. Replicamos a postura da pessoa, expressão facial, forma de falar e tom de voz.
Como funciona isso na prática? Imagine a cena: O cliente passou a mão no cabelo, agora espere um tempo e com naturalidade também passe a mão no cabelo. No entanto, cuidado! Como eu disse, replique os movimentos com naturalidade. Pois, o contrário pode gerar uma estranheza e desconfiança da outra parte.
Essa é só uma forma de criar uma conexão com a pessoa e deixá-la mais à vontade, aumentando as chances de tirar uma informação dela.
Lembre-se, uma pessoa com antipatia por você pode até forçar a barra para prejudicar o seu cliente.
Chame a pessoa pelo nome
Sempre chame a pessoa pelo nome. Segundo Dale Carnegie, no livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”:
“O nome de uma pessoa, é para ela, o som mais doce e mais importante que existe em qualquer idioma.”
Linguagem corporal positiva
Outra sugestão é, não só no momento das perguntas, mas durante toda a audiência, atente-se a transmitir uma linguagem corporal positiva.
Como seria isso na prática? Esteja com a postura alinhada, com braços e pernas descruzados. Faça contato visual com o seu receptor.
O efeito da linguagem corporal atua de forma inconsciente nas pessoas. Uma linguagem corporal positiva é associada a confiabilidade, segurança e competência. E isso também influencia em como a testemunha vai receber as suas perguntas.
E aí, gostou desse artigo? Aproveita e compartilha essas dicas sobre inquirição de testemunhas com outro colega advogado! Ajude a passar o conhecimento adiante.